terça-feira, 22 de setembro de 2015

casa nova


Eu não quero enriquecer.
Ainda que artista e vaidosa, leonina mesmo sem querer, também não quero ficar famosa. A famosidade cansa. A gente some no turbilhão de olhos, a gente já não sabe mais pra quem olhar. Prefiro um olhar fundo de um aos olhares foscos de milhares. Porém, um pouco aconteceu. Quando explodiu um vídeo, um pouquinho aconteceu. E eu não soube controlar. Olhares de todos os lados lançaram-se sobre minhas miudezas. Eu assustei. Um pouco vibro e um pouco choro, mas não há controle. Talvez parando de viver minha arte, mas aí seria morte minha por dentro e, lentamente, por fora. Mostre-se menos – seria resposta rápida. Mas meu mostrar para mim é compartilhar, e troca é preciso, a todo instante, ao máximo, o tempo todo.

Não sou famosa grande, ufa. É que pequenices me agigantam.

Agora, minha grandeza é comprar e tecer esta minha casa flutuante. Tem no quintal o mundo, é sonho antigo e conseguido pé por pé, gota por gota. Ah, mas ganhou prêmios. Ah, mas assim é fácil. Mas amigo: é caminho, não roubo. É trilha, não combate. É junção de 1+1, 2+2, é pensar e guardar pouquinho ,  é ver impossível aqui e só possível ali, é desejo grande e por isso mesmo lançar grande para tentar e forçar forçar forçar forçar a porta até abrir. Quantos nãos são precisos para um sim? Milhares. Artistas tendem a saber bem isto, sobretudo circenses, sobretudo sós. A gente quase se acostuma com os nãos. A gente de fato se acostuma. Mas a gente sofre e desiste e na manhã seguinte já tenta de novo porque desejo é maior.

Apresento-lhes minha casa nova, morada usada, meu furgão. Há cinco anos guardo silêncio de sonho, mas sabendo precisar. Feito ensinamento de Seu Bide do Paraná com xícara na mão: não precisa falar, trabalhe e quando se darão conta está lá com seu desejo na mão. Minha trilha é nômade, soube disto da primeira vez que parti sozinha. Com o tempo, filho veio e certeza foi maior: ele precisa ver. Pelas Deusas e Deuses e Santos e Forças Todas, meu filho precisa ver este mundo. Que é maior que a gente, sempre maior, bem maior. É um Bem maior. As culturas. Os sonhos dos outros. Os amores. Os olhares.

Apresento-lhes, meus caros, minha nova vida. Ainda há frestas que não sou capaz de definir: como será, de que forma, quanto tempo, quais abismos. É cedo, o horizonte recém se abre lentamente feito raiar de dia.
Eu sou de ir, e vou-me.
A quem interessar possa, sempre escreverei, porque faz parte de meu trocar.
A quem quiser chá ou cafezinho, cá sempre há, e olhos nos olhos também.
Eu sou de ir, e vou-me.
De resto já não sou mais eu.
De resto segue sendo trilha, façamos.
Façamos, vamos amar!

(escrito em 20.10.2014)

Um comentário:

  1. Que legal. Você tem uma tinyhouse. Sou louca para ter uma. Boa sorte e boa viagem. Hildegard Krause

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