Eu não quero enriquecer.
Ainda que artista e vaidosa, leonina mesmo sem querer, também
não quero ficar famosa. A famosidade cansa. A gente some no turbilhão de olhos,
a gente já não sabe mais pra quem olhar. Prefiro um olhar fundo de um aos
olhares foscos de milhares. Porém, um pouco aconteceu. Quando explodiu um
vídeo, um pouquinho aconteceu. E eu não soube controlar. Olhares de todos os
lados lançaram-se sobre minhas miudezas. Eu assustei. Um pouco vibro e um pouco
choro, mas não há controle. Talvez parando de viver minha arte, mas aí seria
morte minha por dentro e, lentamente, por fora. Mostre-se menos – seria
resposta rápida. Mas meu mostrar para mim é compartilhar, e troca é preciso, a
todo instante, ao máximo, o tempo todo.
Não sou famosa grande, ufa. É que pequenices me agigantam.
Agora, minha grandeza é comprar e tecer esta minha casa
flutuante. Tem no quintal o mundo, é sonho antigo e conseguido pé por pé, gota
por gota. Ah, mas ganhou prêmios. Ah, mas assim é fácil. Mas amigo: é caminho,
não roubo. É trilha, não combate. É junção de 1+1, 2+2, é pensar e guardar
pouquinho , é ver impossível aqui e só
possível ali, é desejo grande e por isso mesmo lançar grande para tentar e
forçar forçar forçar forçar a porta até abrir. Quantos nãos são precisos para
um sim? Milhares. Artistas tendem a saber bem isto, sobretudo circenses,
sobretudo sós. A gente quase se acostuma com os nãos. A gente de fato se
acostuma. Mas a gente sofre e desiste e na manhã seguinte já tenta de novo
porque desejo é maior.
Apresento-lhes minha casa nova, morada usada, meu furgão. Há
cinco anos guardo silêncio de sonho, mas sabendo precisar. Feito ensinamento de
Seu Bide do Paraná com xícara na mão: não precisa falar, trabalhe e quando se
darão conta está lá com seu desejo na mão. Minha trilha é nômade, soube disto
da primeira vez que parti sozinha. Com o tempo, filho veio e certeza foi maior:
ele precisa ver. Pelas Deusas e Deuses e Santos e Forças Todas, meu filho
precisa ver este mundo. Que é maior que a gente, sempre maior, bem maior. É um
Bem maior. As culturas. Os sonhos dos outros. Os amores. Os olhares.
Apresento-lhes, meus caros, minha nova vida. Ainda há
frestas que não sou capaz de definir: como será, de que forma, quanto tempo,
quais abismos. É cedo, o horizonte recém se abre lentamente feito raiar de dia.
Eu sou de ir, e vou-me.
A quem interessar possa, sempre escreverei, porque faz parte
de meu trocar.
A quem quiser chá ou cafezinho, cá sempre há, e olhos nos
olhos também.
Eu sou de ir, e vou-me.
De resto já não sou mais eu.
De resto segue sendo trilha, façamos.
Façamos, vamos amar!
(escrito em 20.10.2014)
Foto de Nathália Miranda.
Que legal. Você tem uma tinyhouse. Sou louca para ter uma. Boa sorte e boa viagem. Hildegard Krause
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