sábado, 3 de outubro de 2015

Capela São Franscisco, RS, 3 de outubro de 2015

Frio na barriga.
O caminho – este aqui.
Após dias em oficina, agora a estrada de volta. Retorno nosso ao Rio Grande do Sul.

Chuva forte fez com que seguíssemos primeiro para Santa Catarina – pensamos ser acesso difícil este aqui com tanta chuva a molhar chão de terra. Subimos, e agora voltamos. Não pode não haver este encontro? Não pode. Dá-me sentido, preciso ir – ver meninas, Dona Lita, Seu Nini. Volta chão, navega e navega em estrada. Menino entende, vibra até, ´´eba, viajaaaaaaar!!´´. Bem verdade que vibra também com fato de assistir desenhos que ama ao sentar para viajar. Verdade. No entanto, desejo nosso que carregue alegria na viagem. Alegra, ´´viajaaaaar!!´´.

Nath a dirigir, eu depois em estrada mansa, Laura na estrada de chão; a gente navega e revesa. Ansiedade, a minha – encontrar menina, encontrar meninas, aquelas que voam nas mãos em apresentações minhas.

Deu de chegar de palhaça, deu desejo, só, e desejo atendi. Trocar de roupa estacionada no princípio da estrada de chão – interagir com Timtim de nariz, ouvir risadas a ecoar no interior do Tempo. A fundura das risadas, o alicerce do riso.
Depois sentar e aguardar.
Ver a casa-carro toda a tremer com buracos de estrada, cair de coisas. Ver cair sacola, bergamota. Carrinho de Timtim a correr pelo chão – lado a outro sozinho a rodar. Segurar o pote de mel e deixar que caia o saco de feijão, o cobertor, o arroz, o que cai e não sangra. O limão sozinho a percorrer distâncias.

O aguar do olho em procissão de querer chegar.
O olhar pela janela, o não saber o quê esperar. E se não lembrarem? E se menina reclamar de demora?
O pegar a carta que me acompanha há tantos anos: carta de menina. Dizia ´´lembro que você disse que ia voltar depois de 4 anos, esse ano pelas contas da mãe fazem 3...´´ - escreveu ela. Postada em final de 2013, eu a saber que não consegui cumprir promessa de tempo dito. Mas agora, cá, regresso. Com carta nas mãos e nos olhos, regresso.

[A casa balançando, me balançando. Fazendo batuque em meu peito].

O chegar. O descer: é aqui! Toc toc.
O ver no olho a lembrança chegando: ´´oi, lembro de ti, sim, vem entrando!´´ Dona Lita, Carmelita. O Seu Nini – ´´sim, minha filha!´´´- a lembrar de uma invenção que fizeram a dizer da outra vez que cá estive que eu era filha dele. Nunca desmentiram o parentesco inventado, de modo que tornei-me a ´filha do Seu Nini´ vinda de romance outro que ninguém sabia detalhar bem. Invenção de Dona Lita. Aceitação de todos: ´´é sim, filha dele!´´



O rever a casa, o bosque, o pôr de sol. O ir de encontro às meninas na casa outra onde agora moram. O ser recebida na porta.


Não, cá não residem mais as meninas, vi bem. Cresceram. Tempo de criança faz cócegas em certezas nossas. Pois cresceram, seis anos depois retorno.

Vê-las foi recordar de tamanha doçura... de liberdades, de brincadeiras, de sensações boas. Poucas palavras trocamos (as meninas e eu, agora, frente ao susto de vê-las moças), mas ver seus olhos já alegrou-me o peito.

E depois o jantar conjunto, a sopa de Dona Lita, as conversas com Tania e Ganso, o Timtim a correr e brincar.

O dia foi-se manso, acolhedor. Em terra de sonhos o seguir é vibrar. Eu, de cá, a morar em Tempo, carrego abertura de encontro. E que tudo o mais se aproxime, revele. 

Fotografias por Nathália Miranda

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