Frio na barriga.
O caminho – este aqui.
Após dias em oficina, agora a estrada de volta. Retorno
nosso ao Rio Grande do Sul.
Chuva forte fez com que seguíssemos primeiro para Santa
Catarina – pensamos ser acesso difícil este aqui com tanta chuva a molhar chão
de terra. Subimos, e agora voltamos. Não pode não haver este encontro? Não
pode. Dá-me sentido, preciso ir – ver meninas, Dona Lita, Seu Nini. Volta chão,
navega e navega em estrada. Menino entende, vibra até, ´´eba, viajaaaaaaar!!´´.
Bem verdade que vibra também com fato de assistir desenhos que ama ao sentar
para viajar. Verdade. No entanto, desejo nosso que carregue alegria na viagem.
Alegra, ´´viajaaaaar!!´´.
Nath a dirigir, eu depois em estrada mansa, Laura na estrada
de chão; a gente navega e revesa. Ansiedade, a minha – encontrar menina, encontrar
meninas, aquelas que voam nas mãos em apresentações minhas.
Deu de chegar de palhaça, deu desejo, só, e desejo atendi.
Trocar de roupa estacionada no princípio da estrada de chão – interagir com
Timtim de nariz, ouvir risadas a ecoar no interior do Tempo. A fundura das
risadas, o alicerce do riso.
Depois sentar e aguardar.
Ver a casa-carro toda a tremer com buracos de estrada, cair
de coisas. Ver cair sacola, bergamota. Carrinho de Timtim a correr pelo chão –
lado a outro sozinho a rodar. Segurar o pote de mel e deixar que caia o saco de
feijão, o cobertor, o arroz, o que cai e não sangra. O limão sozinho a
percorrer distâncias.
O aguar do olho em procissão de querer chegar.
O olhar pela janela, o não saber o quê esperar. E se não
lembrarem? E se menina reclamar de demora?
O pegar a carta que me acompanha há tantos anos: carta de
menina. Dizia ´´lembro que você disse que ia voltar depois de 4 anos, esse ano
pelas contas da mãe fazem 3...´´ - escreveu ela. Postada em final de 2013, eu a
saber que não consegui cumprir promessa de tempo dito. Mas agora, cá, regresso.
Com carta nas mãos e nos olhos, regresso.
[A casa balançando, me balançando. Fazendo batuque em meu
peito].
O chegar. O descer: é aqui! Toc toc.
O ver no olho a lembrança chegando: ´´oi, lembro de ti, sim,
vem entrando!´´ Dona Lita, Carmelita. O Seu Nini – ´´sim, minha filha!´´´- a
lembrar de uma invenção que fizeram a dizer da outra vez que cá estive que eu
era filha dele. Nunca desmentiram o parentesco inventado, de modo que tornei-me
a ´filha do Seu Nini´ vinda de romance outro que ninguém sabia detalhar bem.
Invenção de Dona Lita. Aceitação de todos: ´´é sim, filha dele!´´
O rever a casa, o bosque, o pôr de sol. O ir de encontro às
meninas na casa outra onde agora moram. O ser recebida na porta.
Não, cá não residem mais as meninas, vi bem. Cresceram.
Tempo de criança faz cócegas em certezas nossas. Pois cresceram, seis anos
depois retorno.
Vê-las foi recordar de tamanha doçura... de liberdades, de
brincadeiras, de sensações boas. Poucas palavras trocamos (as meninas e eu,
agora, frente ao susto de vê-las moças), mas ver seus olhos já alegrou-me o
peito.
E depois o jantar conjunto, a sopa de Dona Lita, as
conversas com Tania e Ganso, o Timtim a correr e brincar.
O dia foi-se manso, acolhedor. Em terra de sonhos o seguir é
vibrar. Eu, de cá, a morar em Tempo, carrego abertura de encontro. E que tudo o
mais se aproxime, revele.
Fotografias por Nathália Miranda
Nenhum comentário:
Postar um comentário