quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Dona Bil, Ibilina




Encontramos ela: a Dona Bil, Ibilina.
Estava lá na igreja, a rezar. Feito tempo traçado em silêncio, o terço enrolado em seus dedos finos e longos. Ouviu som de sanfona na rua e veio ver – isso me disse depois. Estava lá, sozinha, na igreja. Veio.  A senhora lembra de mim? Olha, que lembro... lembro! A menina das apresentação! – me nomeou.
Veio ela com seus 91 anos. Feito tempo. Feito brecha de asfalto, ruga de chão, raiz de vento. Veio a Dona Bil, Ibilina. ´´Cê voltou, menina? Tá é mais bonita, mais muié!´´ - dizia.
Disse que sim. Que havia voltado em agradecimento, gratidão pelo encontro de 6 anos atrás. Disse eu ainda que vim a mostrar mais coisas que fiz: bonecos miúdos de homenagem distante. Mostrei menina. E depois, sem titubear, mostrei a boneca dela: Dona Bil. Falei: fiz de uma senhora que conheci há alguns anos, em um lugar feito esse, em um olhar feito esse. Ela me olhou, estendeu braço pra boneca que dançou. Sorriu. Mirou fundo no meu olho e nos comunicamos em silêncio e suspiro.
Valentim ali ao lado, Laura e Nat atrás.
Aqueles minutos para mim duraram anos, sigo até agora lá: encostada na cerca da igreja, frente à senhora Bil, Ibilina. Com seu terço na mão, seu tempo no olho, seu sorriso. Sigo lá, sigo aqui, sigo.

Se a gente não é feito de emoção eu não sei mais pelo que se há de viver. 

Fotografias por Nathália Miranda

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